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terça-feira, 14 de agosto de 2012

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Quadrinhos Disney Entrevista: Gérson L. B. Teixeira

Olá, gente, de volta ao blog (justo no dia do meu niver), com a super entrevista dada pelo roteirista brasileiro Gérson L. B. Teixeira por e-mail. Vamos lá:

Quadrinhos Disney: Em primeiro lugar, obrigado por nos ceder essa ótima entrevista, que com certeza vai ajudar muitos leitores casuais do QD (Quadrinhos Disney) a ingressar nos quadrinhos de vez!
Gérson Teixeira: Eu é que agradeço de poder repartir com os fãs Disney um pouquinho da experiência incrível que foi fazer parte da história dos Quadrinhos Disney no Brasil.

QD: Quando você começou a trabalhar no estúdios Disney/Abril? Como foi essa primeira experiência?
GT:  O primeiro contato que eu tive com a redação  Disney, foi quando  tinha apenas 15 anos e apareci com uma pasta cheia de desenhos. Fui muito bem recebido, pelo então desenhista César Sandoval, que me indicou o livro Animation, do Preston Blayr e me aconselhou a treinar mais e voltar dalí a alguns anos. Foi o que fiz, e quando completei 19 anos, disputei e consegui uma vaga de treinee de arte (assistente de assistente, era eu que colava o nome dos personagens e a assinatura Disney nas histórias) com uma porrada de candidatos. Uma curiosidade: Anos depois trabalhei com o César Sandoval escrevendo a Turma da Arrepio.

QD: Qual foi a sua primeira história nos estúdios brasileiros?
GT:  Meu primeiro roteiro aprovado foi uma história do Morcego vermelho chamada O Outro lado do meio dia, desenhada por Edgar Herrero.

QD: Teve alguma HQ em especial que você mais gostou de trabalhar? Por que?
GT:  Uma história que me marcou, foi uma da Patrulha estelar, chamada se não me engano : As Unidades Autônomas, onde o Mickey e Pateta caem num planeta de gigantes, e depois descobrem serem robôs comandados por pequenas criaturas, que por sua vez também eram comandadas por minúsculas criaturas e assim sucessivamente.

QD: Qual o seu personagem Disney favorito? Alguma razão para isso?
GT:  Tenho um carinho muito grande por todos, pois convivi com a maioria deles por 20 anos, mas o meu favorito é sem dúvida o Peninha. Gosto muito da personalidade irreverente dele.

QD: Qual foi a década de mais movimento dos nossos estúdios?
GT: Para mim foi os anos 80. Fizemos muita coisa boa nesta época.

QD: Uma pergunta especial: o que você acha do Peninh... (ops) ... Morcego Vermelho?
GT: É um personagem genial!  Um anti-herói atrapalhado e convencido, que dá muita margem para boas histórias. Foi com uma história dele que comecei na profissão, e com a minha 6ª história, também dele (Xeque mate), ganhei o meu primeiro Prêmio Abril de jornalismo.

QD: Você atuou também com outros alter-egos do Peninha, como: Pena Kid, Pena das Selvas, Submarino... O que acha deles num contexto geral?
GT: A personalidade do Peninha é um “prato cheio” para qualquer roteirista. As histórias com ele pareciam fluir, sair prontas da ponta do lápis. No caso do Pena da Selva, joguei muito das situações do que me acontecia como recém casado. A Glory Jane era a minha esposa e muitas das situações que o Pena das Selvas passou nos roteiros, foram coisas que me aconteciam, como por exemplo, levá-la à cidade para fazer um curso de elefante ( Minha esposa fazia um curso de cerâmica no Brooklin, e eu tinha que atravessar a cidade para levá-la.

QD: Você foi um dos maiores (senão o maior) roteirista da Abril a partir dos anos 2000! Por que toda aquela reformulação nos personagens e nos seus estilos?
GT:  Eu nunca me considerei o melhor, achava as histórias Disney do Arthur Faria Jr. bem melhores, mas reconheço que fiz muita coisa legal. Corrigindo a pergunta, entrei na Editora Abril em 1977 e sai quando parou a produção Brasil em 1997. 2000 foi o ano que entrei no Estúdio do Mauricio de Sousa. Sem dúvida quem agitou toda aquela fase criativa da Redação Disney em todos anos que durou, foi o meu chefe nestes anos todos e um grande amigo, o Primaggio Mantovi. A Disney devia fazer uma homenagem a ele nos moldes que acabou de ser feita pelo Troféu HQ Mix. Juntos criamos muita coisa. Tempo bom!

QD: O Zé [Carioca] foi o personagem que mais sofreu mudanças nos quadrinhos brasileiros. Por que essa decisão editorial?
GT: As  mudanças foram acontecendo conforme o Brasil e o mundo foram ficando mais politicamente corretos, Uma delas foi o charuto, por questões óbvias, O terninho e a gravata do Zé criado pelos americanos, não fazia muito sentido num país tropical de 30 graus de média de temperatura. Se não me engano a mudança do Zé de um barraco tipo favela para uma casinha tipo cohab foi uma exigência do governo da época para não passar uma imagem “errada” da realidade brasileira.

QD: Voltando a década de 80. Você escreveu HQs de séries como: A Patada, Sátiras do Peninha, O Diário da Margarida, TV Patinhas e Patrulha Estelar. Como é atuar tão constantemente em séries assim? E como é ter feito a HQ de origem dessa última série aqui citada?
GT: A Patada era um retrato da Redação Disney daquela época, inclusive muitas das situações retratadas naquela redação de jornal, eram coisas que aconteciam na nossa redação, posso citar dois exemplos, A história “O bolão da chuva”, onde o pessoal da Patada fazia um bolão pra ver quem acertava a hora que iria chover, realmente aconteceu, e a história onde se disputa um torneio de botões com robôs,satirizou um dos muitos torneios de futebol de botão que fazíamos na hora do almoço. A TV Patinhas foi uma forma que encontrei para satirizar a produção de um programa de tevê, e a primeira história da Patrulha estelar foi escrita pelo Roteirista Julio de Andrade, e eu fiz todas as outras. ( não lembro de outro roteirista ter escrito este material). Foi muito legal viajar literalmente com este material, poprque foi uma forma de sugerir uma diagramação de quadrinho diferenciada. Lembro de ter sugerido que o espaço ao redor dos quadrinhos fosse pintado de preto. A ideia foi recusada pela diretoria como sendo ruim e absurda, e anos mais tarde, vária histórias tanto Disney quanto de outros universos usaram este recurso. Tenho um roteiro da Patrulha estelar que não sei porque ficou comigo, que assim que encontrar em meio às minhas bagunças, escaneio e compartilho com vocês.

QD: Uma dúvida frequente é porque a partir de algumas histórias com código B 82.... até B 86.... o estilo variou de 4 pra 3 tiras por página?
GT: Durante todos estes anos que durou a produção brasileira de quadrinhos Disney, quebramos a cabeça para tornar as revistas mais agradáveis de ler. Muita gente criticava o excesso de elementos nos quadrinhos, muito texto e pouco espaço para os desenhos no material Disney, então tentamos um maior “arejamento” das páginas. Muitos leitores aprovaram, mas como não se consegue agradar a todos, na primeira queda das vendas, culparam essa mudança e tudo voltou ao que era.

QD: A 1ª HQ online publicada no blog foi criada pro ti e desenhada pelo ótimo Irineu Soares Rodrigues. A história a que me refiro é "O Torneio de Botão na Patada" (que é uma das minhas favoritas do estúdio brasileiro). Enfim, essa história foi a mais vista de todas. Ótima sensação, não?
GT: É legal ver e saber que ainda tem gente que curte os quadrinhos Disney no Brasil, e iniciativas como a sua de divulgar e difundir este material entre os jovens que quase não tem acesso ou não tiveram este hábito quando crianças, tem que ser aplaudida. Quanto à história, já citei como surgiu.

QD: Sabendo que os quadrinhos Disney Made in Brazil vão retornar agora com algumas HQs curtas do Zé, eu pergunto: Qual a expectativa para isso? Você vai ajudar com esse projeto?
GT: Eu torço muito para que este material vingue e que as histórias Disney voltem a fazer sucesso aqui no Brasil. Eu não tinha esta informação sobre a volta da produção de material inédito, e espero que não seja apenas mais um dos muitos boatos que apareceram nos últimos anos. Desde 2000 estou completamente engajado na produção do material do Mauricio de Sousa, e posso adiantar que nunca fui sondado para voltar a fazer roteiros e que se isso acontecer, vou indicar roteiristas que eram especialistas em Disney e que não quiseram ou não se adaptaram com o material do Mauricio.

QD: Por fim, poderia mandar uma mensagem para os leitores  brasileiros e estrangeiros do QD?
GT: Uma lição que aprendi em todos estes anos como roteirista, é não ter preconceito com outros universos de personagens. Nos vinte anos que trabalhei na Abril, escrevi para praticamente todos os personagens da casa inclusive de fora como A turma do Arrepio e Fofão. Isso me fez ver que em cada redação de quadrinhos e em cada estúdio de desenho animado haviam profissionais dando o melhor de si  ganhando honestamente o sustento de suas famílias. Muitos leitores Disney tem preconceito com o material produzido pelo Mauricio, mas a cada dia fico mais surpreso com o nível dos profissionais que trabalham por lá, muitos oriundos da Abril. Torço muito pela volta da redação Disney, porque tem muita gente boa fora do mercado de quadrinhos. E por fim, parabenizo você pela iniciativa e pelo blog.


Gostaram? Espero que sim! Aproveitem, porque vou buscar mais entrevistas. Até o próximo post!!!